Há alguns anos atrás, na minha mocidade, ia no dia de S. João para a cidade do Porto, numa correria desenfreada, gozar do genuíno espectáculo que era o S. João no Porto. O mais democrático dia de Portugal, em que toda a população vinha à rua, em que o alho porro (anterior aos ridículos martelinhos) batia indiferentemente nas cabeças do rico e do pobre, do patrão e do empregado, do polícia e do ladrão, do governante e do POVO.
Regressava a casa, estoirado por noite e dia de folia, com a amargura do “S. João já se acabou” mas também com a esperança “para o ano há mais”.
Hoje, à distância de muitos quilómetros, assistindo ao deplorável espectáculo com que a RTP me brindou, fiquei com a ideia que o “meu” S. João tinha acabado.
Tinha acabado??!!
NÃO!
O irredutível que vive dentro de mim não quer acreditar, e começa a telefonar (sim, telefonar, porque não gosto de “telemovar”…). Telefonema para um, telefonema para outro, e começam a chover, na minha caixa de correio electrónico, imagens e filmes do verdadeiro S. João.
Ah, o “meu” S. João ainda existe!!
Afinal, o programa da RTP era apenas uma partida de muito mau gosto.
Depois meditei e cheguei à conclusão que o Porto já não era o Porto que conhecia. Esse Porto nunca permitiria uma “chungalhada” / “chungalheira” destas!
Toca a telefonar.
Sou de novo brindado com imagens e filmes acompanhados de narrativas acerca do local onde a festa se passou (e ainda passava…), onde os odores da sardinha assada, manjerico, alho-porro e hortelã se misturam. Sim, a festa não é nada sem uma boa sardinha assada assente numa fatia de pão de milho (de "Avintes" dizem) com uma malga de caldo verde regados , abundantemente, com sumo de uva fermentado (a cerveja fica para depois...).
Ora, aí está, a festa não mudou de sítio. A medíocre RTP, apenas abandalhou um pequeno espaço dentro da Festa, ao mesmo tempo que inundava de lixo a casa de muitos portugueses. Nem o fogo-de-artifício conseguiram transmitir “au naturel”. A autarquia local, também imbuídos do espiríto "pimba", colaborou, colocando palcos, nos espaços mais pitorescos, para a actuação daquilo que pior se faz quer em Portugal quer vindo do outro lado do Atlêntico. Dizem-me os amigos que os martelinhos abafavam a porcaria debitada em Watt's desperdiçados. Só por isso, benditos martelinhos...
A “pimba” RTP, não se apercebeu que o S. João no Porto não tem nada a ver com o Santo António de Lisboa. A falta de cultura grassa como erva daninha, e neste caso nem o "Gramoxone" nos salva.
São estas cabecinhas de alho chocho, pagas a peso de ouro, que nos fazem chegar às nossas casas este tipo de programas.
Pensava que nada mais me admiraria, depois de assistir à cabecinha mais oca de todas as televisões apresentando e moderando um programa onde seria exigida alguma (ALGUMA!) cultura geral (com ordenado milionário), no acompanhamento do Mundial onde não fazem rigorosamente NADA (com principescos subsídios) onde apresentam pratos requentados acompanhados de salada analista (a peso de platina), mas não, para minha estupefacção ainda restava esta “piece de resistence”. Não sei mais o que se pode esperar desta pública (???!!!) instituição.
"É fartar vilanagem !!"