domingo, maio 18, 2014

DIREITO A SER "ESQUECIDO"

Numa altura em que estamos em período de reflexão pela "Europa" eis mais uma fantabulástica decisão dos hipócritas "Europeus" perfeitamente demonstrativa que de pouco vale o nosso esforço em eleger alguém capaz de ir para lá defender os REAIS e VERDADEIROS interesses dos cidadãos que fazem parte desta comunidade.
Após imensas promessas de muitos destes decisores, neste caso com especial realce para aquela que tudo prometeu e praticamente nada fez - Viviane Reading, que na sua grande maioria nunca foram cumpridas exceptuando neste final de corrida onde lá conseguiram fazer alguma coisita à pressa e no presente caso, se traduziu numa autêntica cagada!

Como defensor das políticas que visam proteger os cidadãos e especialmente dos direitos fundamentais dos mesmos, acho que esta decisão até poderia ser benéfica para os utilizadores deste Universo. Porém, se numa primeira análise até posso concordar com esta decisão, numa análise mais profunda também posso perceber quais o perigos que a pressa-para-mostrar-algum-serviço-antes-de levar-um-pontapé-no-traseiro que tal acarreta para todo o universo de utilizadores duma Internet que se quer a salvo de decisões arbitrárias e principalmente daquelas com tendência em proteger os interesses de uns poucos em detrimento de todos. E foi precisamente isto que aconteceu, quando alguém decidiu algo que se esqueceu de que se existe o direito de um ser esquecido também existe o direito de todos os outros ao conhecimento!

Isto é grave, muito grave, para toda a gente que deseja ver uma Internet isenta, livre e sem preconceitos que, como é óbvio, para além de tudo o que é bom e desejável também arrasta consigo aquilo que é mau e indesejável. Senão vejamos:

- por acaso já tinha conhecimento deste caso embora não tivesse dado qualquer importância no decorrer destes anos todos mas o que se torna mais admirável e de alguma forma incrivelmente contraproducente é que quem não conhecia o problema que Mario Costeja González teve, após esta decisão do direito ao "esquecimento" o que aconteceu de facto foi que todo o mundo ficou a conhecer não só o personagem mas também o cerne da questão e pela qual exigiu ser "esquecido"!
E ainda pior, é que agora jamais será esquecido!
E provavelmente muitos outros requerentes que facilmente terão direito ao estrelato!

- se no presente caso apenas os motores de busca foram visados, especialmente Google, o que impede alguém de exigir igual tratamento dos outros meios de comunicação?
A partir de agora quem encontrar algo como "John Doe requisitou que algumas informações pessoais fossem apagadas" não irá de imediato à procura desses dados "esquecidos"!?
E depois, em nome do "esquecimento", queimem os jornais, destruam os arquivos e queimem as Bibliotecas!?

- e porque não "esquecer" Hitler?
O facínora já morreu - para além dos anos que já decorreram qual a relevância dos dados arquivados que existem por toda a parte!?
Que raio é essa treta de relevância!?
Como é que se mede essa estupidez que alguns gajos que até agora andaram com a cabeça metida no cú inventaram!?

- outro dos pormenores relevantes e que deveriam ter maior atenção por parte destes decisores é saber como tecnicamente irá ser cometida tal proeza. Por exemplo, no caso de um John Doe requisitar ser "esquecido" como ficarão todos os outros John Doe espalhados pelo mundo?
É que se repararem bem trata-se de uma gigantesca proeza técnica que a gratuitidade desta decisão nem sequer teve o mínimo pejo em aclarar!
E, como se pode verificar um pouco mais abaixo no caso da Cláusula 42, estes super-cérebros até deixaram a NSA e companheiros europeus espiar ilegalmente todos os cidadãos europeus baseados na complexidade técnica que traria para o Tratado a eliminação de tal Cláusula!!!
Onde andava esta super-Inteligência nessa altura!?
A passar férias de 360 dias no ano e nos restantes, para disfarçar que fazem alguma coisa, prestam-se a mostrar vassalagem e a serem manejados pelo Puppet Master daquele teatro de marionetas em que se tornou a "Europa"!?

- e, porque carga de água há-de alguém ver o seu nome esquecido de tal forma que todos os outros cidadãos do mundo desconheçam a realidade/verdade?
Será que Bill Clinton cidadão poderá exigir o "esquecimento" e riscar da história a brincadeira com a Monica alegando que tal facto não tem relevância alguma ou que já foi há muito tempo?

Muitas outras questões poderiam ser discutidas a favor ou contra esta ridícula decisão mas certamente nos próximos tempos acontecerão diversos debates um pouco por toda a parte e vou partir noutra direcção só para mostrar como tal decisão é de uma vergonhosa hipocrisia:

- onde se meteram estes pseudo-protectores dos direitos dos cidadãos aquando dos factos que Snowden transmitiu ao mundo e que vieram apenas comprovar algo que estes governantes sabiam de forma descarada desde há muito tempo!?

- onde e quando decidiram exigir que todos os registos ilegais na posse dos gigantes da espionagem fossem pura e simplesmente "esquecidos"?
E se eventualmente pouco poderiam fazer face à NSA, muito menos exigir alguma transparência, já no caso da britânica GHCQ (que aos europeus fez bem pior que a NSA), alemã BND, francesa GSDE o que fizeram até agora!?
Ah! sim fizeram alguma coisa - apesar de terem tido um papel fundamental, com a colaboração conhecida da Suécia e Espanha, e provavelmente de outros países por saber, na espionagem europeia/mundial pela ajuda prestada à NSA, foram aos EUA chorar a sua indignação!
Notavelmente, quando tal procissão de indignados se dirigiu ao beija-pés no santuário "americano" até conseguiu algum resultado no Congresso por parte do espião-mor James Clapper:
“Some of this reminds me of the classic movie ‘Casablanca’ — ‘My God, there’s gambling going on here,’ ”
Certamente não seria o resultado esperado de serem comparados com um celebrizado corrupto que, falsamente indignado, falava assim do próprio negócio que ilegalmente geria!

- e em que buraco andaram metidos estes arautos da dignidade humana quando foi a votação o vexante acordo entre a EU e os EUA em que deixaram aprovar a eliminação da (anti-FISA) cláusula 42!?

Como nota final, declaro com toda a sinceridade que até estou particularmente satisfeito por terem feito frente a Google e à inusitada avidez que esta tem com recolher dados de tudo e todos. Até que enfim, este problema começa a merecer as luzes da ribalta mas também me sinto completamente desagradado pela gratuitidade de tal decisão, claramente para à pressa e de forma atabalhoada "mostrar o serviço" que durante anos meteram nalguma obscura gaveta da secretária, agora que estão no final de mandato. Pessoalmente, creio que esta decisão não tem qualquer mérito e que deveria ter sido submetida a um processo mais rigoroso e uma perfeita análise de todos os problemas que acarretará no futuro da Internet como um espaço isento e não à mercê, entre muitas outras, de imaturas decisões de governos da treta.